quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A puta



Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.




Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.




Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.




É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto do menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.





Carlos Drummond de Andrade, Boitempo

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