segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Joia do Islã III


Era manhã de setembro



Era manhã de setembro
e
ela beijava-me o membro

Aviões e nuvens passavam
coros negros rebramiam
ela me beijava o membro

O meu tempo de menino
o meu tempo ainda futuro
cruzados floriam juntos

Ela me beijava o membro

Um passarinho cantava,
bem dentro da árvore, dentro
da terra, de mim, da morte

Morte e primavera em rama
disputavam-se a água clara
água que dobrava a sede

Ela me beijando o membro

Tudo que eu tivera sido
quanto me fora defeso
já não formava sentido

Somente a rosa crispada
o talo ardente, uma flama
aquele êxtase ma grama

Ela a me beijar o membro

Dos beijos era o mais casto
na pureza despojada
que é própria das coisas dadas

Nem era preito de escrava
enrodilhada na sombra
mas presente de rainha

tornando-se coisa minha
circulando-me no sangue
e doce e lento e erradio

como beijara uma santa
no mais divino transporte
e num solene arrepio

beijava beijava o membro

Pensando nos outros homens
eu tinha pena de todos
aprisionados no mundo

Meu império se estendia
por toda a praia deserta
e a cada sentido alerta

Ela me beijava o membro

eram tudo ondas caladas
morrendo num cais longínquo
e uma cidade se erguia

radiante de predarias
e de ódios apaziguados
e o espasmo vinha na brisa

para consigo furtar-me
se antes não me desfolhava
como um cabelo se alisa

e me tornava disperso
todo em círculos concêntricos
na fumaça do universo

Beijava o membro
               beijava
e se sorria beijando
a renascer em setembro

Carlos Drummond de Andrade, O amor natural

***

Dia 31 de outubro, nada de Halloween. Hoje é o "Dia D", dia de celebrar o grande poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que, se vivo, estaria completando 109 anos. Como singela homenagem, deixo aqui um poema dele, para nosso deleite.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

I Put A Spell On You - Screamin' Jay Hawkins

A puta



Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.




Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.




Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.




É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto do menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.





Carlos Drummond de Andrade, Boitempo

O suposto pornô de Marilyn Monroe



Rodado provavelmente entre os anos de 1946 e 1947, o filme que se segue apresenta supostamente Norma Jean, mais tarde conhecida como a estrela de cinema Marilyn Monroe, antes dos 21 anos (que corresponde à maioridade legal nos EUA). Recentemente, uma cópia deste filme, rodada em 8 milímetros, foi encontrada no espólio de um colecionador espanhol e levado a leilão em Buenos Aires, sem, contudo, que os lances atingissem o valor esperado pelo dono, que preferiu não vendê-lo. A única cópia até então conhecida do vídeo havia sido rodada em 16 milímetros. Mais informações, aqui. (Continue lendo o post para ver o vídeo).

La Vénus à la fourrure


Na cara!!!


Fetiche (em tom de sépia)


terça-feira, 25 de outubro de 2011

XII. The Hanged Man



Soneto LXVI



No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero solo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia solo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.


Pablo Neruda, Cien sonetos de amor

Joia do Islã


Eros & Tânatos



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