terça-feira, 29 de maio de 2012

Harém

Poemeto erótico


Teu corpo claro e perfeito,
— Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha…

Teu corpo é tudo o que cheira…
Rosa… flor de laranjeira…

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado…

Teu corpo é pomo doirado…

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume…

Teu corpo é a brasa do lume…

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes…

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em antigas se derrama…

Volúpia da água e da chama…

A todo o momento o vejo…
Teu corpo… a única ilha
No oceano do meu desejo…

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira…
Rosa, flor de laranjeira…

Manuel Bandeira, A cinza das horas

Dá o pé, loura!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Provando do próprio veneno

Fetiche X

Seio de virgem


Quand on te voit, il vient à maints
Une envie dedans tes mains
De te tâter, de te tenir...
Clément Marot

O que sonho noite e dia,
E à alma traz-me poesia
E me torna a vida bela...
O que num brando roçar
Faz meu peito se agitar,
É o teu seio, donzela!

Oh! quem pintara o cetim
Desses limões de marfim,
Os leves cerúleos veios
Na brancura deslumbrante
E o tremido de teus seios?

Quando os vejo... de paixão
Sinto pruridos na mão
De os apalpar e conter...
Sorriste do meu desejo?
Loucura! bastava um beijo
Para neles se morrer!

Minhas ternuras, donzela,
Voltei-as à forma bela
Daqueles frutos de neve...
Ai!... duas cândidas flores
Que o pressentir dos amores
Faz palpitarem de leve.

Mimosos seios, mimosos,
Que dizem voluptuosos:
"Amai, poetas, amai!
Que misteriosas venturas
Dormem nessas rosas puras
E se acordarão num ai!"

Que lírio, que nívea rosa,
Ou camélia cetinosa
Tem uma brancura assim?
Que flor da terra ou do céu,
Que valha do seio teu
Esse morango ou rubim?

Quantos encantos sonhados
Sinto estremecer velados
Por teu cândido vestido!
Sem ver teu seio, donzela,
Suas delícias revela
O poeta embevecido!

Donzela, feliz do amante
Que teu seio palpitante
Seio d’esposa fizer!
Que dessa forma tão pura
Fizer com mais formosura
Seio de bela mulher!

Feliz de mim... porém não!...
Repouse teu coração
Da pureza no rosal!
Tenho no peito um aroma
Que valha a rosa que assoma
No teu seio virginal?...

Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos
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